Capítulo 3:
O céu começava a clarear e eles avistaram a baía, continuaram caminhando, fazendo o contorno pela margem, até chegar à estrada que finda na ponte.
A ponte foi vista ao longe, era uma enorme construção, de madeira e cimento, unia os pontos de menor distância entre as margens e foi construída por motivos de logística bélica e mercantil. As águas do oceano vinham com peixes pequenos e aves voavam procurando alimento.
A estrada ainda estava deserta naquela hora e na entrada da ponte uma pequena guarita montava guarda, e cobrava impostos para realizar a travessia. Obviamente, o imposto não foi cobrado aos três nobres soldados do império, que carregavam seu amigo ferido em batalha contra bandidos da estrada.
Ao descer no outro lado da ponte, eles já estavam oficialmente sob o território da província de Teros, embora aquela região ainda fosse um pouco distante da cidade. Como não conheciam a região, seguiram pela perigosa estrada cercada de capim alto e grandes pedras excelentes esconderijos para ocultar batedores, eram alvo fácil, três soldados, carregando um ferido, apenas com espadas curtas.
O disfarce não seria mais necessário então tiraram as armaduras e enterraram. Mas acharam prudente manter as espadas.
E foi numa subida no terreno irregular que eles viram ao longe, fora da estrada, um pequeno acampamento, com uma fogueira já apagada, uma carroça puxada por dois cavalos e um único cavaleiro que carregava uma grande armadura sendo encurralado por um pequeno grupo de bandidos. Tempos atrás isso era comum, mas atualmente é uma loucura cruzar aquelas estradas sozinho. Resolveram correr para ajudar, contaram seis batedores, ainda estavam em desvantagem numérica, mas seria menos mal que seis contra um.
Talvez pela percepção já abalada pelo sono, não perceberam que pisaram em uma área onde a terra por baixo da grama era mais fofa, desabando e tragando-os para baixo, um buraco. Caíram na armadilha dos bandidos, provavelmente aquela cena era uma encenação barata para atrair almas caridosas para fora da estrada. Rapir, que carregava peso extra, machucou o braço e abriu um corte na perna; os outros sofreram apenas pequenas escoriações e arranhões. Rapidamente o Rato usou o corpo de Code como apoio para lançar-se para fora do grande buraco, e Code o seguiu, com menos destreza, mas conseguiu também segurar-se na borda e Rato puxou seu corpo para cima. Juntos conseguiram puxar o ferido e o desacordado.
Ao olhar novamente para o acampamento, agora bem de perto, avistaram uma chocante cena: Apenas cinco corpos, dilacerados, um deles decapitado, a cabeça rolava para longe.
Ainda de pé o guerreiro usava uma armadura prateada composta de não uma só placa, mas várias pequenas, sobrepostas como escamas, muito bem trabalhada e polida que refletia o brilho do sol. Cobria o corpo todo, mas dava mobilidade ao usuário, embora parecesse pesada. Usava um elmo que cobria seu rosto.
Pisou, com sua bota de couro e ferro em um dos mortos enquanto com força puxava seu machado que ficara preso nas costelas do ladrão, e ao soltar emitiu um som nauseante.
Girando o corpo rapidamente para o outro lado avistou o último ladrão que corria desesperado perante a chacina que acabara de presenciar. O misterioso guerreiro levantou o machado e arremessou a arma contra o corredor, girando várias vezes rapidamente no ar e cravando sua lâmina na nuca, matando instantaneamente e jogando seu corpo desengonçado ao chão.
O guerreiro que dera conta sozinho dos ladrões estava de costas para eles, tirou as luvas de couro e metal, e levando a mão de pele branca à cabeça retirou também o elmo, soltando seus compridos cabelos castanho claro e cacheados que escorreram até a metade das costas. Virando-se em direção ao buraco os três perceberam que na verdade tratava-se de uma guerreira, tão bela quanto mortal. Seu rosto era de uma beleza selvagem e tinha um olhar duro como pedra, capaz de intimidar qualquer general experiente. Sua orelha era repleta de brincos e havia um também no nariz.
- Bom dia cavalheiros! Ainda bem que eu não sou uma bela donzela indefesa, não? - ironizou sorrindo.
- Indefesa já reparamos que não é. Mas bela é impossível dizer que não o seja. - retrucou Rapir, conquistador, tentando não mancar.
- Lwj’zah! Pegou pesado dessa vez heim? - Um homem barbudo saiu da carruagem segurando um tipo de besta e usava um sobretudo marrom. - O que achou da armadura?
- Não gostei! Muito pesada, você sabe que eu prefiro roupas leves para lutar.
- Azar o seu sua teimosa! Não venha reclamar depois quando virar um alfineteiro! Bom dia senhores! Meu nome é Syad! Precisam de ajuda? - O jovem barbudo exibia um rosto simpático.
- Estamos apenas de passagem senhor! Estamos indo para Teros.
- Querem carona? Tenho certeza que ainda há espaço dentro da carruagem.
- Seria de grande ajuda. - Rapir respondeu.
- Estávamos nos preparando para o desjejum, sentem-se e comam conosco! - Convidou Syad.
- Antes me ajude a tirar essa tralha Syad! - Esbravejou Lwj’zah, arrancando o machado do crânio do cadáver.
Alguns minutos depois conseguiram tirar a desengonçada armadura. Por baixo, a bárbara usava uma roupa simples e justa, que deixava boa parte de seu corpo à mostra, e só então notaram as formas femininas de seu corpo, antes ocultas pela grossa armadura. Pela pele clara haviam pinturas, como símbolos e formas.
Code nunca foi muito de socializar, mas embora se sentisse a vontade com os três novos amigos, aquela mulher despertou nele algo diferente, e agora ele estava ali olhando, encantado para ela.
- Seu amigo parece mal. O que acha que pode haver com ele Lwj’zah?
- Ele desmaiou. Está com febre. - Disse o Rato.
- Isso eu posso ver. - Lwj’zah respondeu, e abrindo os olhos do Herege, viu que o globo estava negro. - Isso é novidade! Os olhos estão completamente negros, nunca vi isso. Anatomicamente o mais plausível é que a íris tenha se expandido, para captar mais luz, mas isso tornaria qualquer pessoa cega, creio. - Falou com certa empolgação, como um estudioso que descobre uma nova invenção. Provocando surpresa nos outros. A surpresa foi notada por Syad que explicou:
- Lwj’zah é uma velha amiga. Ela conhece bem os segredos do corpo humano, os nômades da tribo de Kaé estudaram a anatomia humana, isso ajuda a se tornarem assassinos mais eficientes e também excelentes curandeiros. É uma bela contradição não acha? Mãos que são tão habilidosas em matar quanto curar.
- Deixe-me ver seu braço! - Analisou o cotovelo de Rapir. Com um movimento brusco botou o osso no lugar novamente, provocando um grito de dor. - Uma pequena luxação. É só enfaixar e logo estará melhor. - Tirou um pano limpo da carroça e rasgou em três partes. Com uma enfaixou a perna sobre o corte, estancando o sangue, com a segunda prendeu uma tira de madeira no braço, imobilizando-o e com a ultima fez um apoio para o braço, que passava por trás do pescoço de Rapir.
Sentaram-se e serviram uma sopa, feita à base de ervas e raízes.
- Além de tudo Lwj é uma ótima cozinheira. Nos conhecemos há muito tempo e desde então nos tornamos grandes amigos. O que os traz a essa humilde província? - O sorriso cativava.
- Teros não é a nossa parada final. Estamos rumando em direção ao grande Reino da Chuva. - Respondeu Rapir.
- O Reino da Chuva. - Syad mexia na barba, pensativo. - Embora viaje muito nunca fui tão longe... Talvez seja uma boa oportunidade. Por hora vamos nos apressar! Seu amigo precisa de ajuda.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Postado por LubaLuba às 16:41
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