terça-feira, 10 de agosto de 2010

Capítulo 10:

O vento soprava forte, estava frio e a chuva caia intensamente. Sua roupa estava pesada e suja.

Aquela lâmina dourada apontada para sua garganta significava morte. Seu nariz sangrava, quebrou-se no último golpe.

- Onde está o garoto? - Ouviu uma voz rouca. Nada respondeu.

Responderam por ele.

- Está aqui. - Uma voz feminina, imponente, foi ouvida ao longe.

A aberração virou-se rapidamente, como um lobo faminto olhando carne fresca.

Ali estava a bela garota com seus cabelos negros. Era jovem, porém tinha o rosto sóbrio.

Não demonstrou o menor sinal de desconforto com a aparência do guerreiro.

Ao seu lado estava uma criança, com uma capa marrom, seu cabelo longo e ruivo.

Esqueceu o bardo largado no chão, e avançou ferozmente sobre os dois, seu alvo era aquele garoto.

Enquanto se aproximava a garota recitava palavras incompreensíveis, paralisando-o.

Seu corpo não respondia mais, a espada caiu na terra molhada.

- Então você é Peste? É tudo que eu precisava saber. - Ela se aproximou repetindo palavras incompreensíveis, e com um gesto de mãos puxou uma aura negra, que se transformou em massa.

O guerreiro caiu ao chão, desacordado. Foi se curando quase que instantaneamente, revelando um conhecido rosto. Era Rike, o guerreiro jovem que alcançou destaque ao recuperar o item lendário do Reino da Chuva: a Espada Dourada.

Frio. Úmido. Ramy. Ela me abraça. Quente. Algo negro a envolve. E penetra pela sua pele, abrindo buracos, por onde sangue esguicha. Ela grita de dor. Não estou mais lá, mas continuo assistindo. Ela começa a se deteriorar, sua pele clara e macia fica acinzentada e morta, seus longos cabelos negros e lisos se quebram como vidro. Seus olhos tornam-se vermelhos. Seus dentes apodrecem e viram presas.

Gelado. Molhado. Áspero. A escuridão se rompe. Um bichano está lambendo meu nariz.

Foi tudo um sonho. Minha cabeça dói. Não reconheço o lugar. Um grande quarto. O chão é de madeira pura, mas eu estou em uma cama confortável. Não consigo me mover, mas daqui vejo que o chão é repleto de desenhos e marcas. Vejo prateleiras cheias de frascos, amuletos e livros. Uma criança ruiva esta me encarando do outro lado do quarto sentado em uma cadeira de balanço que range significativamente a cada movimento. Ouço vozes vindas de fora. Passos vão se aproximando.

O bardo agora estava limpo, após lavar-se em um tonel de madeira com água devidamente aquecida. Ele acompanhava a garota subindo por uma grande escadaria em espiral.

- Você vai ou não vai me explicar o que aconteceu?

- Vou. Mas vou esperar nosso hóspede acordar para explicar uma só vez.

- Por que o trouxemos?

- Sai daí Gato! - Com um movimento espantou o gato de cima da cama.

- Ele acordou. - Disse o menino da cadeira de balanço.

- Mas ainda não pode se mover pelo que vejo. - Constatou a garota.

- Que gracinha ele. - O gato agora deslizava pelo pé do bardo. - Como se chama?

- Gato.

- Eu sei que é um gato. Mas qual o nome?

- O gato se chama Gato.

O cavaleiro real conhecido como Rike estava vestido com roupas estranhas, tinha sido recebido com hospitalidade, mas ainda estava desconfiado, não se lembrava de nada. Só que acordou com uma imensa dor de cabeça e a mãe de todas as fomes. Devorava um pedaço de pão oferecido pela garota.

- Agora acho que você já pode nos dizer o que diabos aconteceu? - O bardo preparava o curativo do rosto.

- Pois bem senhores. Meu nome é Pan. Isso - a garota falou mostrando um frasco de vidro que continha um estranho tipo de vida, uma pequena massa negra, como uma gosma que se movia freneticamente. -É uma entidade, conhecida como Peste, é um dos quatro lacaios do Divino. É o que estava atrás dessa criança. Agora você precisa me dizer: o que faz com ela? Não vai querer nos enganar e dizer que é um simples músico e ele é seu pajem.

- É a mais pura verdade. - Ela apenas o encarou seriamente. - Eu não sei nada sobre ele. É só mais um trabalho. Seria o último, trabalho grande, pagamento alto.

- Então você é um mercenário? Pode se dizer então que um nobre é o seu contratante?

- Talvez. Ele não se identificou. Preferiu ficar anônimo. Nem seu rosto eu vi. E que história é essa de divino?

- É um mago muito poderoso, temo que seja o mais poderoso. Ele materializou quatro entidades poderosas, frutos de suas experiências mágicas. Creio que essa seja uma delas.

- Então na verdade não era ele que estava atrás do garoto, - falou se referindo ao guerreiro. - ele estava só sendo controlado por isso?

- Exato. Creio que cada um deles tenha a sua particularidade, esse atua como um parasita. Ele começa degenerando o hospedeiro, mas seu poder estende-se incontrolavelmente. Em pouco tempo toda a fauna e flora estava sendo afetada pela peste.

- E agora que foi neutralizada tudo vai voltando ao normal pelo que pude perceber.

- Exato.

- Do que vocês estão falando? - O cavaleiro estava desnorteado.

- Não se lembra de nada? - O bardo perguntou.

- Não. - Respondeu.

- Isso é por que outra alma possuiu seu corpo, como eu suspeitava você não foi responsável por suas ações.

- Espere... O rei. Conspiravam contra ele. Disseram que iram matá-lo! Precisamos impedi-los.

- Calma cavaleiro. - Ela segurou-o pelo braço. - É tarde demais para isso, o rei está morto.

- Morto? Não é possível. Você mente! - Inconformou-se.

- Não é hora para isso. Eu poderia evocar sua alma nesse momento se fosse preciso. - Ela disse firme.

- Eu jurei que iria protegê-lo e agora ele está morto! - Lamentou-se Rike.

- Você não pode ajuda-lo, nem poderia, mas pode cooperar conosco. Diga-nos do que se lembra.

Ele forçou-se, mas não conseguia lembrar-se de nada.

- Há um feitiço chamado Toque da Alma, com isso eu posso rever o que você viu. Você permitiria que eu sondasse sua mente?

- Se for para ajudar a vingar a morte do rei eu permito.

Poucos minutos depois os preparos para o feitiço estavam prontos. Era um feitiço simples, se comparado a outros da linha da necromancia. O necromante precisava apenas de um objeto pertencente ao alvo, ou o próprio e então poderia investigar impressões deixadas.

- Você andava pelo castelo, - disse ela de olhos fechados - seria nomeado conselheiro do rei, encontrou o príncipe Nän e Artis, um sacerdote membro da nobreza. Havia também uma terceira pessoa que nós dois desconhecemos, mas nada disse o tempo todo. Falavam de frente para o espelho, como se conversassem com ele. Uma criatura surgiu rapidamente e o nocauteou. Divino! Era ele no espelho, tenho certeza. - Ela afirmou saindo do transe. - Provavelmente depois disso você entrou em contato com a Peste.

- Você estava atrás do garoto. - O bardo lembrou-se.

- Há uma única hipótese plausível a meu ver. - Disse Pan. - O seu contratante queria o garoto vivo. Para executar alguém, eu não acredito que Divino contrataria um mercenário. Ele tem seus próprios lacaios.

- Eu me encontraria com ele na capital, em três dias.

- E como convenceu o garoto? - Ela perguntou.

- Ele veio por livre e espontânea vontade.

- Eu acredito que esse garoto possa ser a peça chave para algo muito importante. Algo está para acontecer. E precisamos protegê-lo. Trata-se não apenas da vida dele, mas sim de toda a humanidade.

- Eu sei quem é seu contratante. - Exclamou Rike. - O conde Titus.

4 comentários:

Pirra disse...

Formando uma quase sociedade do anel... foda! XD

Nenê Psicodélico disse...

Puro êxtase essa história.
Incrível incrível incrível.

Ótima sequência de diálogo.
E o roteiro está cada vez melhor e desenvolvendo uma história cada vez mais grandiosa.

O Pior Beta Reader do Mundo disse...

Eu sei que é um gato. Qual o nome dele?

AEOIHOIUEHAOIEUAHOIEAHOIEUAHOIEHAOIEUAHOIEHAIOUEHIOEUHIOEAHIOEAHIOUH Prometendo. :P

Vitor Lima disse...

********** *-* *********

Porrada!