sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As Fantásticas Aventuras dos Cavaleiros de Oir

Iniciaremos aqui uma nova fase do nosso blog. Entraremos em um mundo de fantasia e aventura, com mistério, drama, romance, batalhas épicas, sangue, cabeças rolando, e um monte de outras coisas divertidas que todas as histórias deveriam ter.
Publicaremos em cada post um capítulo -inééédito! dã- de As Fantásticas Aventuras dos Cavaleiros de Oir, do excelentíssimo renomado autor Deco, querido membro nerd de nosso clã da Bodega.
Aposto que todos irão se identificar e curtir bastante o enrredo.
Como nosso querido autor está com problemas técnicos para postar, coube a mim -linda e maravilhosa /NÃO- postar. Cá estou fazendo esse favor com o maior prazer.

Introdução:

“Entre publicar a verdade ou a lenda, publique a lenda.”

As lendas permeiam a história da humanidade, confundindo-se com a própria realidade em vários momentos, o conto a seguir, nunca foi retratado por bardos, nem por poetas, não é uma epopeia e muito menos uma tragédia grega, esta longe de ter a grandiosidade da Batalha de Tróia ou das crônicas dos cavaleiros da távola redonda.

Capítulo 1:

Aconteceu quando aquele mundo ainda era jovem, em tempos imemoriáveis, em terras tão longínquas quanto o tempo. Em outro universo infinito, no meio de infinitos universos do infinito.
No litoral ficava aquela cidade conhecida como Oir, que significava Dourada naquele dialeto, uma das maiores cidades daquele tempo e extremamente importante economicamente. A grande cidade era constituída por casas de madeira em partes mais pobres que rodeavam o centro que era a área nobre de casas de cimento, grandes construções dos nobres. A cidade dourada era, na verdade, cinza e marrom e cercada por uma grande muralha, sempre patrulhada por vigias.
Aquela cidade que outrora foi grande e considerada um bom lugar, hoje vivia tempos difíceis, tempos de guerras, fome e miséria.

Era um dia de lua cheia no inverno daquele ano, em uma taverna localizada na zona sul da cidade, quatro homens vestidos como guardas confabulavam sentados numa mesa.

- Um brinde à nossa fuga! - Sugeriu um deles, tomando o cuidado de abaixar a voz na última palavra, e todos levantaram seus copos. -Senhores, meu nome é Rapir.
- Fala com um sotaque deveras estranho e tens um nome incomum. Logo nota-se que não é daqui. - Respondeu o sujeito mais alto da mesa que carregava consigo um arco longo.
- Venho de longe, porém sou submetido ao mesmo império. Não precisa se preocupar meu caro, eu não sou um maldito espião. Sou apenas um andarilho. Mas os guardas não acreditaram em mim.
- Eu sou conhecido como Rato, já devem ter ouvido falar de mim! - Disse o mais baixo da mesa, que tinha os olhos azuis.
Eles se entreolharam e ficou claro que nenhum jamais ouvira falar no nome. E antes que pudessem ter respondido o mesmo prosseguiu:
- Essa fuga foi realmente difícil, mas eu já escapei de sete calabouços diferentes, - Tentava mostrar desprezo e conter a empolgação.
- É, mas só foi possível graças ao bom plano do nosso amigo. Diga-nos, quem é você? - indagou Rapir.
- O plano era completamente louco! Foi pura sorte termos conseguido!
- Meu nome é Code, - disse o alto, interrompendo o pequeno - e o plano só foi possível graças à ajuda e perícia de vocês, e principalmente à sua experiência Senhor Rato! - Inflando o ego do ladino. - Sou um simples caçador, e fui preso injustamente, provavelmente me confundiram com alguém, ou pior, talvez tenham armado contra mim! - Exclamou conspiratório.
- Havia um prêmio pela minha cabeça e alguém me entregou. Certamente para receber o valor. Mas geralmente eu não confio em ninguém. -Disse o Rato pensativo.
- Se há mesmo um prêmio pela cabeça do Rato então já temos como pagar mais uma rodada de cerveja! - Brincou Code e os outros riram. Menos o quarto homem naquela mesa. Estava quieto como sempre, olhando fixo para o copo de chá que pedira, porém não bebera um gole sequer ainda, sua boca se movia, porém não saia som algum, como se falasse sozinho, e todos repararam e estranharam, acharam que o mesmo fosse mudo, pois não falara nada até agora. Ao perceber que era observado o sujeito com a barba por fazer teve a sua atenção desviada para os três companheiros e como que voltando a si deu um gole no chá.
- Diga-nos o seu nome companheiro.
- Meu nome nem mesmo eu me lembro, já o abandonei há tempos.
- Então você também era procurado? - Indagou o Rato.
- Não pela lei como você. O nome é algo importante para uma pessoa, porém é também muito perigoso para alguém como eu, há vias que nem todos compreendem e o nome é um atalho para muitas dessas. Atualmente eu sou conhecido como O Herege. - Respondeu misterioso.
- Magia e superstição, mas seu nome remete a falta de crença. É uma grande contradição não acha? - Desconfiou Rapir.
O Herege, já tinha uma resposta pronta para a pergunta óbvia, porém nesse momento ouviu-se a pesada porta se abrir.
Não somente os quatro, mas todos que ali estavam se viraram em direção à porta, onde um homem de armadura olhava para os fugitivos, sentados na mesa. Os quatro foram tomados por um frio na boca do estomago. Rato pensou em correr, mas estava no canto e a única chance de escapatória seria se antes Code levantasse do banco de madeira pesado.
O homem vestia uma armadura mais completa e pomposa, típica de um capitão e portava apenas uma espada curta na bainha. Se estivesse sozinho seria um alvo viável para os quatro, mas Code pensou que certamente havia mais homens do lado de fora, um capitão não andaria sozinho pelas ruas do sul à uma hora dessa da noite.
O homem se aproximou rapidamente da mesa. Rapir levou a mão à espada, pronto para desembainhá-la e acertar um golpe mortal em direção ao pescoço, porém foi interrompido pela mão do Herege, forçando a espada novamente para dentro da bainha. Code, também segurava a sua espada, mais defensivo, pronto para retirar rapidamente a espada e defender qualquer ataque. O capitão parou em pé ao lado da mesa.
- Boa noite senhores.
- O que houve capitão? Sente-se um pouco conosco.
- Já estão aqui há muito tempo cavaleiros?
- Chegamos há pouco capitão! Ainda não terminamos a primeira rodada! - Respondeu Code, tentando controlar o nervosismo e levantando o copo com líquido pela metade para demonstrar. - Nosso turno terminou ainda pouco. - Completou.
Rapir pensou uma frase, porém se conteve antes de falar, lembrando que seu sotaque poderia denunciá-lo. Rato não queria chamar a atenção pra si com medo de ser reconhecido e também ficou quieto.
- O que o traz a zona sul à uma hora avançada como essa meu caro? - Indagou o Herege.
- Caso não esteja a serviço, meu nobre capitão, aceitaria uma bebida por conta desses servos? - Bajulou Code, ele odiava aquela situação, mas tentava ao máximo não demonstrar.
- Estou de fato em serviço, mas vou aceitar sim uma bebida. - Disse o capitão, acenando pela janela para que seus companheiros entrassem.
Rapidamente o bar foi tomado por dezesseis soldados que vestiam a armadura padrão, a mesma vestida pelos fugitivos disfarçados. A armadura contava com um elmo simples que deixava o rosto à mostra, uma placa de metal no peito, braceletes e botas de couro. Os soldados utilizavam apenas uma espada curta e o capitão achou prudente colocar dois do lado de fora montando vigia.
- Traga um copo para o capitão! - Ordenou Code ao pequeno garoto que servia no balcão.
A criança ruiva trouxe o copo. Os ruivos eram característicos de uma pequena cidade à oeste que fora invadida por bárbaros e foram praticamente dizimados, os poucos que sobreviveram, foram vendidos como escravos e esse devia ser o caso do pequeno, calculou Code.
Rapir estava mais tranquilo, o capitão provavelmente não desconfiava deles.
O Capitão deu um longo gole na cerveja.
- Quem é o capitão de vocês soldados? - Perguntou-lhes.
- Montamos guarda na divisa da parte sul com o centro. - Improvisou o Herege.
- Ah! Então correspondem a Marcis certo? É um velho amigo e um bom homem!
- De fato. - Herege ficara aliviado por ele ter caído na sua lábia.
- Estão acontecendo ataques constantes por essas bandas. - Revelou o capitão.
Os morados do lado sul da cidade eram em geral mercadores, nem nobres, mas também não camponeses. E o número de ataques ali crescia como reflexo a pobreza da cidade. Aquela área oferecia menos resistência do que o centro e mais recompensas do que as fazendas e os campos, sendo o alvo perfeito para ladrões.
- Os mercadores certamente estão pressionando os nobres exigindo segurança. - Deduziu Rapir, demonstrando conhecimento político com uma tentativa de esconder o sotaque.
- De onde você vem forasteiro? - Desconfiou o Capitão.
- Sou de Oir, porém minha família migrou para Tiba quando ainda era pequeno, recentemente pude retornar à minha pátria e me alistar no exército senhor. - Mentiu o estrangeiro.
- Eu também sou de Tiba, e vim para Oir quando ainda era jovem - Respondeu o Capitão, acreditando - Mas errou por pouco companheiro. Os mercadores geralmente contratam empregados pra defender suas posses. A nossa ronda é uma besteira completa. Recentemente estão havendo assassinatos brutais por essas bandas, talvez pela proximidade da floresta os mais supersticiosos dizem que viram monstros atacando. - Ele deu um suspiro - Monstros, onde já se viu?! Bastardos ignorantes!
- É realmente um absurdo! - Rapir disse gargalhando.
Era realmente uma grande negligência beber em serviço, porém o absurdo da sua missão justificava a sua falta de preocupação.
Terminando o copo de cerveja o capitão se levantou.
- Tenho que voltar à patrulha! Meu nome é Capitão Kuri! Mandem lembranças minhas ao Marcis.
Os quatro se sentiram aliviados enquanto aquela pequena unidade de patrulha saía do bar, eles não estavam procurando os fugitivos.
- Essa foi por pouco. - Suspirou aliviado Rapir.
- Não se preocupem. Estaremos seguros enquanto usarmos esses uniformes roubados. Além disso, eu fiz um encantamento ilusório para que não dessem a nossa falta na prisão. Mas nós não temos muito tempo, ele provavelmente só durará até o amanhecer. - Disse o Herege.
- Então você é de fato um perito em mágica não é? - Duvidou Rapir.
- Embora eu tenha um talento nato eu sou um pupilo ainda. Não basta o conhecimento, é necessária também a sensibilidade à magia. Eu estudo a ciência da alquimia. - Esclareceu. - Truques de ilusão de ótica são relativamente fáceis de serem feitos, principalmente em locais escuros. Digam-me, o que vocês pretendem fazer, agora que somos fugitivos?
Eles deram de ombros, pensativos e ele emendou a proposta:
- Ouvi dizer que haverá uma grande feira, não, mais que uma feira, uma grande convenção no reino da chuva que fica a três dias de viagem.
Nesse momento foi interrompido novamente pelo ranger da porta, porém, dessa vez quem entrava era um bardo. Sua pele branca contrastava com a roupa e o manto, completamente pretos, o cabelo também era preto e comprido até a metade das costas, preso em um rabo de cavalo baixo e com uma fina trança caindo pelo lado, por trás da sua orelha, tinha a barba bem feita, exceto pelo queixo e logo acima do cavanhaque. Carregava consigo uma viola, e sentou-se no balcão aonde foi atendido pelo garoto, que lhe trouxe uma caneca de cerveja. Um bêbado que estava no bar pediu-lhe que cantasse uma canção e ele começou a tocar a sua favorita, cantava também com um sotaque diferenciado, mas diferente do de Rapir. A canção falava das aventuras dos lendários Cavaleiros Dourados, cavaleiros que eram a elite da defesa do império e que lutavam contra as forças do mal. A lenda dizia que quando fosse necessário eles retornariam para defender o mundo novamente. Mas por mais que se fizesse necessário eles até então não apareceram. Deixando aquela cidade cair em desgraça e tornando as pessoas cada vez mais desacreditadas.
- Chega dessa mentira boca do inferno! - Insultou o bêbado. - Esses malditos cavaleiros nunca existiram, não sabe que isso é história para crianças?
O bardo guardou a viola no saco e retirou-se, sorrindo e debochando do bêbado.
Os quatro saíram pouco tempo depois. Combinaram que viajariam juntos para o grande Reino da Chuva. Cada um com a sua motivação, mas todos tinham em comum o ideal de sair daquela cidade caótica e conhecer o mundo.
Longe dali, numa cela em um calabouço, os soldados que montavam guarda olhavam diretamente para os guardas do turno anterior, presos, amarrados e amordaçados, porém tudo que viam era quatro prisioneiros, um careca, um alto, um magro e um baixo com os olhos azuis.

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