sexta-feira, 18 de junho de 2010

Corleone Pipoca's Bar - Em Cartaz - Kick-Ass: Quebrando Tudo



Qual o segredo do sucesso de Batman e Homem-Aranha, dois personagens de maior popularidade da DC e da Marvel? Por qual motivo Watchmen foi tão revolucionário nos quadrinhos? O que fez os filmes do Homem de Ferro funcionarem tão bem? O que torna X-men uma história tão fascinante? As respostas para essas perguntas invariavelmente flertam com a mesma questão: Licenças poéticas à parte, todas essas histórias trazem de alguma maneira seus heróis a um mundo mais próximo do real, fazendo-os lidar com problemas tridimensionais e não apenas o simples esteriótipo de "salvar o mundo" ou "resgatar a mocinha". Aqui e ali essas histórias parecem perguntar "e se os super-heróis vivessem no mundo REAL?". O que nos traz basicamente ao mote principal deste "Kick-Ass: Quebrando Tudo", adaptação da grafic novel de John Romita Jr. e Mark Millar.



Dave Lizewski (Aaron Johnson) é um pré-adolescente que é fã de quadrinhos, não é bom em esportes e é invisível às garotas. Um típico nerd de marca maior. Um dia, porém, ele se pergunta porque ninguém nunca tentou ser um super-herói. Animado com a idéia, ele sai às ruas disfarçado como Kick-Ass em incurções de combate ao crime que nem sempre dão certo. No meio do caminho ele acaba se envolvendo na luta dos justiceiros Big Daddy (Nicholas Cage) e Hit-Girl (Chloë Grace Moretz) contra o perigoso gângster Frank D’Amico (Mark Strong), além de inspirar o aparecimento de Red-Mist (Christopher Mintz-Plasse), outro jovem herói que insiste em ser seu parceiro.

O filme é uma verdadeira homenagem ao mundo dos quadrinhos (o filme em cartaz no cinema em determinada cena se chama "The Spirit 3"). Não hesitando em encher seu filme de referências ao gênero, o cineasta Matthew Vaughn faz com que toda a primeira metade remeta diretamente ao primeiro Homem-Aranha (com direito à narração em off e tudo). E se podemos considerar a dupla Big Daddy e Hit-Girl claramente inspirada em Batman e Robin (inclusive suas motivações pessoais, sendo apresentadas numa belíssima sequência em animação) o fato é que o próprio protagonista se encarrega de traçar esses paralelos divertidos ao longo do filme.

Aliás, logo em sua primeira cena o filme apresenta um senso de humor mordaz que funciona maravilhosamente bem ("É um asiático com histórico de problemas mentais"). Claramente inspirado em Quentin Tarantino, o roteiro do filme não poupa gírias nem palavrões em seus diálogos, brincando aqui e ali com metalinguagem (em determinado momento o protagonista avisa que estar narrando o filme não é garantia de que ele irá sobreviver) e com referências cotidianas (o vilão do filme comenta casualmente com seu filho que irá querer "raspadinhas mistas" para acompanhar com a pipoca. Mais Tarantino impossível). Contribuindo nesse sentido, o diretor ainda toma a corajosa e acertada decisão de não poupar seu público da violência gráfica que as cenas de ação requerem.

Aaron Johnson encarna o protagonista com propriedade, retratando com competência sua insegurança e vulnerabilidade frente aos perigos que enfrenta (notem como ele arregala os olhos, começa a tremer e gagueja levemente ao tentar ameaçar um bandido em determinada cena) e levando-nos imediatamente a estabelecer uma identificação com o personagem. Já Christopher 'McLovin' Mintz-Plasse constrói um personagem que de forma quase tocante parece ser capaz de qualquer coisa para ter a mera atenção do pai. E se o veterano Nicholas Cage diverte com o humor negro que a forma maníaca de agir do Big Daddy sugere, o outro veterano Mark Strong apenas põe em prática sua especialidade de fazer vilões.

Mas o grande destaque fica mesmo para Chloë Grace Moretz e sua carismática Hit-Girl. Tendo recebido treinamento desde a mais tenra idade, a menina Mindy virou praticamente uma ninja nas suas inúmeras habilidades físicas e no seu manejo das mais diversas armas. E se a mera imagem de uma menina de 11 anos utilizando armas de fogo, fazendo acrobacias incríveis e derrubando banditos com o dobro do seu tamanho já surge divertidamente surreal, o filme ainda brinca com o fetiche do fugurino de "estudante" em determinado momento, como que nos convidando a ver sensualidade em uma criança. Aliás, a personagem apenas funciona tão bem por conta justamente dessa subversão da sua própria inocência, sendo esse contraste usado tanto pela atriz, transitando perfeitamente entre a persona da heroína e a criança, quanto pela personagem, ao utilizar a pouca idade para fazer seus adversários subestimá-la. Desta forma, Hit-Girl rouba a cena do início ao fim, estabelecendo-se como o grande trunfo do filme.

Investindo em um colorido vivo que também faz referência aos quadrinhos, a fotografia e o figurino do filme estabelecem uma cor que identifica cada super-herói: verde para Kick-Ass, vermelho para Red-Mist, roxo para Hit-Girl e preto para Big Daddy, lembrando os antigos super-sentai japoneses, ancestrais dos Power Rangers. Enquanto a trilha sonora evoca um clima frenético e ao mesmo tempo infantil, realçando assim o contraste que tanto favorece o longa.

Trazendo em seu final a tradicional deixa para possíveis continuações, "Kick-Ass: Quebrando Tudo" estabelece-se como entreterimento de primeira e um filme sensacional. Não me importaria de revisitar esses personagens na telona.


"Desculpem, crianças. A Bodega Nerd não serve bebidas alcoólicas a menores de idade."


Cotação:

1 comentários:

Pirra disse...

Sensacional. Um filme que eu mesmo subestimei e foi uma grata surpresa. Parece ser uma sátira de filmes de herói, mas é muito mais. Também daria 5 garrafinhas fácil.