segunda-feira, 3 de maio de 2010

Corleone Pipoca's Bar - Em Cartaz - Alice no País das Maravilhas


Ao conceder entrevistas antes do lançamento de seu mais novo filme, o diretor Tim Burton frequentemente criticava as outras adaptações do romance "Alice no País das Maravilhas" por elas apenas representarem a história como sendo uma garotinha vendo coisas malucas e aleatórias passivamente e sem objetivo aparente. Pois bem, buscando dar uma forma mais tradicional ao que se conhece por "conto de fadas", Burton destrói completamente o que a obra de Lewis Carrol tem de melhor: seu tom anárquico e non-sense.




Mas vamos por partes. Adotando dois livros de Carrol ("Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho". Confesso que não li o segundo) como base para adaptação, Burton retrata uma Alice mais velha (Mia Wasikowska) que está prestes a ser pedida em casamento por um aristocrata aborrecido. Sem saber o que fazer, ela foge perseguindo um Coelho Branco (Michael Sheen, senti falta do "Estou atrasado! Estou atrasado!") e cai novamente no País das Maravilhas, onde deve lutar para destronar a malvada Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).

Padecendo de uma presibilidade terrível (o próprio filme entrega logo de cara como irá terminar), o roteiro desse Alice no País das Maravilhas faz uso de muitos diálogos expositivos ("Você está quase sendo a Alice certa"). Por outro lado, é bom ver que o humor negro do diretor se faz presente em cenas inspiradas, como ao ver a Rainha Vermelha maltratando os animais do reino ou ao ver a Rainha Branca (Anne Hathaway) preparando o suco de crescer para Alice. Ainda assim, é inegável que as tentativas do roteiro em resgatar o tom da obra de Carrol soltando aqui e ali uma fala non-sense ("Você sabe qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?") falham terrivelmente, pois destoam do restante do filme, como se os personagens hora se lembrassem que são loucos e hora não.

Porém, como é de praxe em filmes do Tim Burton, em matéria de apelo visual o filme se sai muito bem. Mostrando o País das Maravilhas como um lugar bem colorido (ainda que essas cores tenham um tom frio, distante como também acontecia em "A Fantástica Fábrica de Chocolates"), ao contrário do Reino da Rainha Branca que é essencialmente... branco, o filme acerta ao retratar suas criaturas de forma plausível (ainda que caricatas em sua aparência, elas jamais soam falsas). E se a estratégia de "colar" a cabeça de atores em corpos virtuais funcione para a Rainha Vermelha, o mesmo não acontece com o Valete de Copas, que tem alguns movimentos bastante truncados, desajeitados, soando bem falso.

E já que falamos da Rainha Vermelha, vale dizer que Helena Bonham Carter rouba a cena de cabo a rabo no filme. Encarnando a crueldade da personagem como reflexo de sua carência e complexo por conta de sua enorme cabeça, Carter ainda tem momentos de humor bastante eficazes. E como esquecer do bordão "Cortem-lhe a cabeça!"? Ao passo que Johnny Depp, voltando a encarnar o tipo excêntrico de personagem no qual se especializou, surge no piloto automático, com a participação de seu personagem sendo inexplicavelmente aumentada na história (O Chapeleiro era assim uma figura tão importante nos contos de Carrol?). E se Anne Hathaway falha em captar a simpatia do expectador (seus maneirismos e gestuais exagerados imitando o estilo "princesa Disney" me irritaram), Stephen Fry e Matt Lucas surgem marcantes como, respectivamente, o Gato de Cheshire e os gêmeos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum.

E chegamos, finalmente, à protagonista. Mia Wasikowska encarna Alice de maneira profundamente desinteressante. Inexpressiva, a garota não consegue conferir um toque de verdade a qualquer fala que pronuncie e ainda por cima é sabotada pelo roteiro, que a obriga constantemente a falar sozinha em voz alta o que deve fazer, um recurso narrativo digno de novela da Globo.

Sendo constantemente criticado por privilegiar apenas o apelo visual em detrimento do roteiro, Tim Burton com este filme aqui infelizmente não conseguiu argumentos para se defender.

"Ihh... Isso de ficar vindo pra Bodega pra tomar cházinho sei não... é coisa de Frufru..."


Cotação:


2 comentários:

Pirra disse...

3 xícaras eu ainda acho muito! Além da previsibilidade e do desempenho pífio de muitos atores, o filme tem um ritmo chato! De dar sono, realmente...

João Rodrigues disse...

Nunca achei Alice no país das maravilhas tão legal...
Fraquinho o filme e pra história que tem poderia ser bem mais legal!